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Obesidade infantil
Nutrição
A obesidade é considerada um flagelo mundial que afecta com maior incidência os países desenvolvidos. Nas últimas décadas, temos vindo a assistir também a um aumento significativo e preocupante da obesidade infantil. Portugal, não é excepção. A título de exemplo, nos EUA, 1 em cada 5 crianças apresenta excesso de peso. Tenho ouvido, durante a minha prática médica, relatos de pais sobre a dificuldade que têm em controlar determinados hábitos alimentares dos seus filhos. Soube, por exemplo, que é comum em muitos estabelecimentos de ensino e aquando de uma festa de aniversário, o aniversariante ofereçer um saco de guloseimas a todos os colegas. Ora, como praticamente todas as semanas há aniversários, as crianças acabam por comer, com muita frequência, quantidades exageradas de açúcar...
Os maiores problemas relacionados com a obesidade infantil não são de ordem estética, como é fácil de entender. Na realidade, as crianças que apresentam excesso de peso têm tendência para se transformar em adultos obesos e para apresentar precocemente doenças graves. Refiro-me a problemas cardiovasculares, níveis de colesterol e de triglicéridos elevados, problemas respiratórios, diabetes e mesmo alguns tipos de cancro. A obesidade infantil prejudica ainda a boa formação do esqueleto. Não menos importante é também o factor psicológico, já que o facto de algumas crianças serem mais gordinhas é motivo de chacota por parte de muitos colegas, o que pode desencadear casos de depressão, entre outros.
Para além da tendência genética ser importante, assistimos hoje em dia, a uma mudança drástica dos hábitos alimentares. Para além das mais variadas guloseimas, as nossas crianças crescem numa sociedade onde reina a fast food. São cada vez mais habituais, para comodismo dos pais, as festas de aniversário em cadeias deste tipo de restaurantes, onde as crianças ingerem apenas alimentos processados, maioritariamente ricos em gorduras e açúcar. Grande parte das crianças faz diariamente uma alimentação deste tipo, ou seja pobre em nutrientes: come poucos vegetais, fruta ou peixe e muitas batatas fritas, hambúrgeres, doces, refrigerantes, etc... Se, por um lado, a evolução tecnológica, como o automóvel, os media, os computadores aproximaram as pessoas, lhes abriram novos horizontes e facilitaram a vida, não é menos verdade que alteraram o estilo de vida de todos nós e, as crianças não são excepção. Todas estas facilidades reduziram o gasto energético da nossa actividade física diária. As crianças praticam cada vez menos exercício físico e passam muitas horas em frente à televisão e/ou ao computador. Aliás, a televisão incentiva, muitas vezes, as crianças ao consumo da fast food, ao publicitar ofertas de brinquedos, entre outras manobras de marketing. Por outro lado, os próprios pais não dão um grande exemplo, pois andam quase sempre atarefados e, para além de não fazerem uma alimentação saudável, também não têm tempo para praticar actividades físicas em família.
Na minha opinião, para inverter esta tendência, em primeiro lugar, é necessária uma mudança de atitude por parte dos pais. É normal estes ficarem aflitos quando os seus filhos têm gripes, mas parecem ser negligentes quando se fala desta doença silenciosa. É importante que os pais e também educadores percebam os verdadeiros riscos que decorrem da obesidade infantil. Após esta tomada de consciência, torna-se imperativo uma alteração dos hábitos alimentares: fazer uma alimentação repartida, variada e equilibrada, baseada em fruta, legumes, peixe e fibras em detrimento da carne e de alimentos ricos em gorduras e açúcares. Pode aprofundar os seus conhecimentos sobre este assunto, lendo sobre temas como a pirâmide dos alimentos ou a dieta mediterrânica. Fomente no seio da sua família actividades ao ar livre que obriguem ao dispêndio de energia. Encoraje actividades diárias simples como caminhar ou andar de bicicleta ao fim de semana, subir escadas em vez de usar o elevador ou brincar em vez de ver televisão. E, um aspecto muito importante é não se esquecer de dar o exemplo. A título preventivo seria ainda interessante que os órgãos públicos de saúde e de ensino considerassem a realização de campanhas educativas de orientação sobre os hábitos alimentares. Nomeadamente, nas cantinas e snack bar em estabelecimentos de ensino.
Pedro Lôbo do Vale
Médico

